Construtora é investigada por vender e não entregar casas no RS: 'sonho que a gente espera que não acabe dessa forma'
08/12/2023
(Foto: Reprodução) Pelo menos 20 vítimas foram identificadas. Prejuízos chegam a mais de R$ 100 mil. Obras deveriam ser entregues em sete meses, mas há clientes aguardando há três anos. Polícia Civil de Capão da Canoa investiga construtora
A Polícia Civil investiga uma construtora de Capão da Canoa, no Litoral do Rio Grande do Sul, por estelionato: ela teria vendido casas para 20 pessoas, mas não entregou as obras nos bairros Jardim Beira-Mar, Capão Novo e Nova Guarani. Elas deveriam ter sido erguidas em sete meses, mas o atraso já se estende por anos.
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"É um sonho que a gente espera que não acabe dessa forma. Eu nem grávida estava, nem sonhava em ser mãe quando fiz [a compra]. Hoje, a minha casa se encontra inacabada e eu estou morando de favor. Minha filha está para nascer agora, dia 3, 4 do mês que vem, e a gente não tem a nossa casa pronta", conta Andriele Dopke, que adquiriu uma casa há três anos.
Obra que deveria ter sido concluída em sete meses não passou dos alicerces em Capão da Canoa
RBS TV/Reprodução
A construtora responsável pelas obras é a Traumcon, de propriedade do empresário Tarso Baum. Em entrevista à RBS TV, ele negou que tenha aplicado um golpe nos clientes e afirmou que a empresa está falida, razão pela qual não consegue entregar os imóveis.
Os problemas, segundo ele, começaram durante a pandemia de Covid-19, quando materiais de construção civil estavam em falta e, por isso, encareceram. Também alegou que houve clientes que não pagaram valores referentes a etapas concluídas de obras.
"Tem casas que eu não fiz e eu não vou mais fazer porque, o que acontece, eu trabalho por reembolso. Se eles não pagarem, eu não tenho obrigação de fazer. Se tu não me passa a parcela, eu não vou fazer porque eu não recebi, entendeu? Então, tem muita gente que... a gente levou muito calote", afirma Baum.
Clientes discordam
Casas não tinham portas, janelas, acabamentos e até instalação hidráulica
RBS TV/Reprodução
Os clientes da construtora contestam a versão do empresário. Rafael Martins trabalha como vendedor e conseguiu um financiamento com a Caixa Econômica Federal para a aquisição de uma casa. Desde o ano passado, vem pagando juros por conta do endividamento.
"Desde novembro que foi liberado [o alvará da prefeitura], a gente tá pagando juro de obra em torno de R$ 1 mil, R$ 1,2 mil. Faz mais de ano isso aí", conta.
Andrieli Baielle é outra das vítimas. Ela conta que a sua casa não tinha o mínimo quando foi entregue.
"Eu entrei na casa em julho deste ano. A casa não tinha porta da frente, abertura interna, não tinha porta do banheiro, vaso sanitário. Não tinha ligação de água dentro", relembra.
Houve casas de clientes em que as obras avançaram até a montagem dos alicerces – e pararam. Foi o caso de Ana Paula Souza da Costa, que previa a mudança para outubro do ano passado.
"A gente tem a base da casa com mais ou menos seis fileiras de tijolo. E foi repassado para ele (o empresário) R$ 50 mil só de fundos nossos e valores da Caixa", diz Ana Paula.
Já Brenda Martins, agente de viagens, contabiliza os gastos que já teve com a casa que nunca recebeu. As obras estão paradas.
"De entrada, a gente deu R$ 20 mil e repassei as parcelas que foram entrando na minha conta da Caixa, que foi R$ 93 mil do terreno e mais parcelas. Repassei para a conta do Tarso Baum", afirma Brenda.
Fiscalização da Caixa Econômica Federal
Clientes relatam que casas que foram entregues, foram entregues mal-acabadas em Capão da Canoa
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O grupo também critica a forma como a Caixa Econômica Federal fiscaliza as obras – uma das obrigações do banco, responsável pelos financiamentos. Dizem que, no começo das construções, visitava os canteiros de obra. Depois, não visitou mais.
À RBS TV, a Caixa Econômica Federal disse que analisa os casos.
Construtora vendeu casas em Capão da Canoa, mas não entregou
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